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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Fidel Castro: Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre




A sociedade mundial não conhece a trégua nos últimos anos, particularmente a partir do momento em que a Comunidade Econômica Europeia, sob a direção ferrenha e incondicional dos Estados Unidos, considerou que tinha chegado a hora de acertar as contas com o que restava de duas grandes nações que, inspiradas nas ideias de Karl Marx, tinham feito a façanha de pôr fim à ordem colonial e imperialista, imposta ao mundo pela Europa e os Estados Unidos.
Na antiga Rússia eclodiu uma revolução que abalou o mundo.
Esperava-se que a primeira grande revolução socialista tivesse lugar nos países mais industrializados da Europa, tais como a Inglaterra, França, Alemanha ou no Império Astro-húngaro. Contudo, esta revolução teve lugar na Rússia, cujo território se estendia até a Ásia, desde o norte da Europa até o sul do Alasca, que tinha sido também território czarista, vendido por uns dólares ao país que seria, posteriormente, o mais interessado em atacar e destruir a revolução e o país que a gerou.
A maior proeza do novo Estado foi a de criar uma União capaz de agrupar seus recursos e partilhar sua tecnologia com grande número de nações fracas e menos desenvolvidas, vítimas inevitáveis da exploração colonial. Seria ou não conveniente no mundo atual uma verdadeira sociedade de nações que respeitasse os direitos, credos, cultura, tecnologias e recursos de lugares acessíveis do planeta que tantas pessoas gostam de visitar e conhecer? E não seria muito mais justo que todas as pessoas que hoje em dia, em frações de segundo se comunicam de um extremo a outro do planeta, vejam nos demais um amigo ou um irmão e não um inimigo disposto a exterminá-lo com os meios que tem sido capaz de criar o conhecimento humano?
Ao acreditar que os seres humanos poderiam ser capazes de albergar tais objetivos, penso que não há direito algum de destruir cidades, assassinar crianças, pulverizar moradias, a espalhar o terror, a fome e a morte por todos lados. Em que recanto do mundo se poderiam justificar tais fatos? Se alguém lembra que no fim da chacina da última contenda mundial o mundo ficou iludido com a criação das Nações Unidas, é porque boa parte da humanidade imaginou as Nações Unidas com tais perspectivas, embora seus objetivos não estivessem cabalmente definidos. Um colossal engano é o que se percebe hoje quando surgem problemas que insinuam o possível deflagrar de uma guerra com o emprego de armas que poderiam pôr fim à existência humana.
Existem sujeitos inescrupulosos, segundo parece não poucos, que consideram um mérito sua disposição a morrer mas, sobretudo, a matar para defender privilégios vergonhosos.
Muitas pessoas ficam espantadas ao escutar as declarações de alguns porta-vozes europeus da OTAN ao se expressarem com o estilo e o rosto das SS nazistas. Por ocasiões até envergam fatos escuros em pleno verão.
Nós temos um adversário o bastante poderoso, que é nosso vizinho mais próximo: os Estados Unidos. Advertimo-lhes que resistiríamos o bloqueio, embora isso pudesse implicar um custo muito elevado para nosso país. Não há pior preço que capitular diante de um inimigo que, sem razão nem direito, te agride. Era o sentimento de um povo pequeno e isolado. O resto dos governos deste hemisfério, com raras exceções, estava do lado do poderoso e influente império. Do nosso lado, não se tratava de uma atitude pessoal, era o sentimento de uma pequena nação que desde começos do século era uma propriedade não só política, mas também econômica dos Estados Unidos. A Espanha nos cedeu a esse país, após termos sofrido quase cinco séculos de colonialismo e de um incalculável número de mortos e perdas materiais na luta para atingir a independência.
O império reservou-se o direito de intervir militarmente em Cuba, em virtude de uma pérfida emenda constitucional, que impôs a um Congresso impotente e incapaz de resistir. À parte de ser o dono de quase tudo em Cuba: abundantes terras, as maiores usinas açucareiras, as jazidas, os bancos e até a prerrogativa de imprimir nosso dinheiro, nos proibia produzir grãos alimentícios suficientes para alimentar a alimentação.
Quando a URSS se esfacelou e sumiu, ainda o Bloco Socialista, continuamos resistindo, e juntos, o Estado e o povo revolucionários, prosseguimos nossa marcha independente.
Contudo, não desejo dramatizar esta modesta história. Mais bem prefiro recalcar que a política do império é tão dramaticamente ridícula que não demorará muito tempo em ir parar à lixeira da história. O império de Adolf Hitler, inspirado na cobiça, passou à história sem mais glória que o alento dado aos governos burgueses e agressivos da OTAN, que os converte no alvo da chacota da Europa toda e do mundo, com seu euro que, tal como o dólar, não demorará a se converter em papel molhado, chamado a depender do yuan e também dos rublos, diante da vigorosa economia chinesa estreitamente unida ao potencial econômico e técnico da Rússia.
Algo que se converteu em um símbolo da política imperial é o cinismo.
Como é bem conhecido, John McCain foi o candidato republicano às eleições de 2008. Este personagem veio a público quando em funções de piloto foi derribado enquanto seu avião bombardeava a populosa cidade de Hanói. Um míssil vietnamita o alvejou em meio da tarfa e o avião e o piloto caíram em um lago situado nas proximidades da capital.
Um antigo soldado vietnamita, já aposentado, que ganhava o pão trabalhando perto dali, ao ver cair o avião e um piloto ferido que tentava salvar-se, veio socorrê-lo. Enquanto o velho soldado lhe prestava essa ajuda, um grupo de populares de Hanói, que sofria os ataques da aviação, se aproximava para acertar as contas àquele assassino. O próprio soldado convenceu os moradores para não o assassinarem, pois já era prisioneiro e sua vida devia ser respeitada. As próprias autoridades ianques se comunicaram com o governo vietnamita, rogando para não agirem contra esse piloto.
Além das normas do governo vietnamita relativamente ao respeito aos prisioneiros, o piloto era filho de um Almirante da Armada dos Estados Unidos, que tinha desempenhado um papel destacado na Segunda Guerra Mundial e ainda estava ocupando um cargo importante.
Naquele bombardeio, os vietnamitas tinham capturado um personagem importante e, logicamente, pensando nas conversações inevitáveis de paz que deviam pôr fim à guerra injusta que lhes haviam imposto, travaram amizade com McCain quem, naturalmente, estava muito feliz de pode tirar todo o proveito possível àquela aventura. Por sinal, isto não me foi contado por nenhum vietnamita, nem eu nunca perguntei nada a esse respeito. Eu li acerca disto e se ajusta totalmente a certos pormenores que conhecei mais tarde. Ainda, um dia li que o senhor McCain tinha escrito que, quando era prisioneiro no Vietnã, enquanto era torturado, escutava vozes em espanhol, assessorando os torturadores acerca do que deviam fazer e como fazê-lo. Eram vozes de cubanos, segundo McCain. Cuba nunca teve assessores no Vietnã. Os militares vietnamitas conhecem amplamente como travar uma guerra.
O general Giap foi um dos chefes mais brilhantes de nossa época, sendo capaz em Dien Bien Phu de deslocar os canhões por florestas emaranhadas e íngremes, uma coisa que os militares ianques e europeus consideravam impossível. Com esses canhões começaram a disparar de um ponto tão próximo que era impossível neutralizá-los sem que as bombas nucleares também afetassem os invasores. Os restantes passos pertinentes, todos difíceis e complexos, foram dados para impor às cercadas forças europeias uma rendição vergonhosa.
O raposo McCain tirou todo o proveito possível das derrotas militares dos invasores ianques e europeus. Nixon não conseguiu persuadir seu conselheiro de Segurança Nacional, Henry Kissinger, de que aceitasse a ideia sugerida pelo próprio presidente, quando em momento em que estava descontraído lhe dizia: por que não jogamos sobre eles uma dessas bombinhas, ó Henry? A verdadeira bombinha explodiu quando os homens do presidente tentaram espionar seus adversários do partido oposto. Isso não podia ser tolerado mesmo!
Apesar disso, o mais cínico do senhor McCain tem sido sua atuação no Próximo Oriente. O senador 
McCain é o aliado mais incondicional de Israel nas trapalhadas do Mossad, algo que nem os piores adversários teriam sido capazes de imaginar. McCain participou em parceria com esse serviço secreto israelense na criação do Estado Islâmico, que tomou posse de uma parte considerável e vital do Iraque, assim como segundo se afirma, de uma terça parte do território da Síria. Esse Estado já conta com receitas multimilionárias, e ameaça a Arábia Saudita e outros Estados dessa complexa região, que fornece a parte mais importante do combustível mundial.
Não seria preferível lutar por produzir mais alimentos e produtos industriais, construir hospitais e escolas para os bilhões de seres humanos que precisam desesperadamente deles, promover a arte e a cultura, lutar contra doenças em massa que matam mais de metade dos doentes, os trabalhadores da saúde ou tecnólogos que segundo se vislumbra, poderiam finalmente eliminar doenças como o câncer, o ébola, a malária, a dengue, a diabetes e outras que afetam as funções vitais dos seres humanos? 
Se hoje resulta possível prolongar a vida, a saúde e o tempo útil das pessoas, se é perfeitamente possível planejar o desenvolvimento da população em virtude da produtividade crescente, a cultura e o desenvolvimento dos valores humanos. O que é que esperam para fazê-lo?
Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre.
31 de agosto de 2014
Fidel Castro. 

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