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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Os EUA e o jornalista Karl Marx


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Ele correspondia-se com presidente Lincoln e colaborou, por mais de uma década, com New York Tribune, então o maior diário do mundo

Por Renato Pompeu, em Retrato do Brasil

Desde outubro de 2013, Outras Palavras republica, todos os meses, um dos textos da edição mensal de Retrato do Brasil e seu índice completo. Criada em 2010, a revista é herdeira de uma tradição de jornalismo alternativo de profundidade, que remonta a Opinião (1972-77) e Movimento (1975-81).

O relacionamento do próprio Karl Marx com os EUA teve início concretamente em 1851, quando Charles Dana, editor do New Yorl Tribune – considerado na época o maior diário do mundo, com 200 mil exemplares de circulação –, convidou-o a escrever sobre as mudanças ocorridas na Alemanha a partir das revoluções de 1848. O convite foi bem aceito por Marx, entre outras razões, porque ele precisava de dinheiro para manter a família. Marx vivia exilado em Londres e, rapidamente, recorreu a seu parceiro e amigo Friedrich Engels para realizar o trabalho. Ambos escreveram artigos para o jornal americano por mais de uma década, explica Jams Ledbetter, editor de Dispatches for the New York Tribuneselected journalism of Karl Marx (Penguin Books, 2007). No total, o jornal publicou 487 textos da dupla, 350 dos quais assinados por Marx, 125 por Engels e 12 por ambos. Os artigos tomam cerca de sete dos 50 volumes das obras de Marx e Engels – mais do que O capital. [A relação completa está disponível no site www.marxists.org. É possível ler alguns textos na íntegra]
Em 1864, quando já encerrara a colaboração com o Tribune, em nome da recém-fundada Associação Internacional dos Trabalhadores, Marx escreveu ao então presidente americano, Abraham Lincoln, cumprimentando-o por sua reeleição e liderança na luta antiescravista. Lincoln respondeu por meio do embaixador americano na Inglaterra, o que teria deixado Marx exultante.


Duas décadas mais tarde, quando ele já havia falecido, suas ideias foram divulgadas pela filha caçula, Eleanor, a qual acompanhou Edward Aveling, seu marido, e Wilhelm Liebknecht, veterano militante socialista, numa viagem aos EUA, a convite do Partido Socialista dos Trabalhadores da América do Norte, composto basicamente por alemães. Ao longo de 12 semanas eles passaram por 35 cidades, “onde se encontraram com milhares de militantes de esquerda, feministas, socialistas e sindicalistas e falaram em quase todas as paradas no caminho, às vezes em quatro eventos no mesmo dia”, escreveu Mary Gabriel em Amor & Capital (Zahar, 2013). Em Chicago – cidade que vivia grande agitação política – milhares de pessoas compareceram às palestras. “Com um discurso pronto, Tussy [apelido de Eleanor] orientou o público a ‘jogar três bombas no meio da massa: agitação, educação e organização’.”

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