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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Friedrich Engels: Bruno Bauer e o Início do Cristianismo


Friedrich Engels


Em Berlim, em 13 de abril, morreu um homem que atuou como
filósofo e teólogo, mas, durante anos, dificilmente se ouvia falar dele, somente atraindo a atenção pública eventualmente como um "literato excêntrico". Teólogos oficiais, inclusive Renan, corresponderam-se com ele e, mesmo assim, mantiveram sobre ele um silêncio de morte. E ele valia mais do que todos eles e fez mais que todos eles em uma questão que também interessa a nós, Socialistas: a pergunta pela origem histórica do Cristianismo.
Por ocasião da sua morte, vamos fazer um breve relato da
situação atual da questão, e da contribuição de Bauer para a sua
solução.
A visão que dominou os livres-pensadores da Idade Média
incluindo os Iluministas do século XVIII, de que todas as religiões
eram obra de enganadores, e, portanto, o Cristianismo também, não
era mais suficiente depois que Hegel fixou para a filosofia a tarefa de
mostrar a evolução racional na história mundial.
É claro que se espontaneamente surgem religiões - como a
adoração de feitiços dos Negros ou a religião comunal dos arianos
primitivos — sem qualquer engodo inicial, entretanto, o engano,
através dos sacerdotes, logo se torna inevitável no seu
desenvolvimento subsequente. Apesar de toda fé sincera, religiões
artificiais não podem permanecer, desde a sua fundação, sem engano
e falsificação histórica. O Cristianismo, também, pode se gabar de
grandes realizações a este respeito desde o início, como Bauer
mostrou em sua crítica do Novo Testamento. Mas isto somente
confirma um fenómeno geral e não explica o caso particular em
questão.
A religião que subjugou o Império Romano e dominou sem dúvida
a maior parte da humanidade civilizada por 1.800 anos, não pode ser
explicada apenas declarando ser ela uma tolice resultante de fraudes.
Não se pode elucidar esta questão e ter sucesso na explicação da sua
origem e do seu desenvolvimento sem partir das condições históricas
sob as quais surgiu e alcançou o domínio da situação. Isto se aplica
ao Cristianismo. A questão a ser solucionada, então, é: como
aconteceu que as massas populares no Império Romano preferiram
esta tolice — que era aceita, normalmente, pelos escravos e
oprimidos — a todas as outras religiões, e, finalmente porque o
ambicioso Constantino viu na adoção desta religião tola o melhor
meio de elevar a si mesmo ao posto de autocrata do mundo romano.
Bruno Bauer contribuiu mais para a solução desta questão que
qualquer outra pessoa. Não importa quanto os teólogos meio-crentes
do período da reação tenham lutado contra ele desde 1849, ele
irrefutavelmente demonstrou a ordem cronológica dos Evangelhos e
sua interdependência mútua, demonstrada por Wilke do ponto de
vista puramente linguístico, pelo próprio conteúdo dos Evangelhos.
Ele expôs a carência completa de espírito científico da vaga teoria de
mito de Strauss, de acordo com a qual se pode considerar como
histórico tudo quanto se gosta nas narrações do Evangelho. E, se
quase nada do conteúdo inteiro dos Evangelhos é historicamente
provável — de forma que até a existência histórica de Jesus Cristo
pode ser questionada — Bauer tem, assim, iluminado os fundamentos
para a solução da pergunta: qual é a origem das idéias e
pensamentos que foram tecidos como uma espécie de sistema no
Cristianismo, e como veio ele a dominar o mundo?
Bauer estudou esta pergunta até a sua morte. Sua investigação
alcançou seu ponto alto na conclusão que o judeu de Alexandria,
Filon, que ainda vivia por volta de 40 D.C., mas já era muito velho,
foi o pai verdadeiro do Cristianismo, e que o estóico romano Sêneca
era, por assim dizer, seu tio. A escrita numerosa atribuída a Filon que
nos alcançou tem origem realmente em uma fusão alegórica e
racionalisticamente concebida das tradições judaicas com as gregas,
particularmente a filosofia estóica. Esta conciliação de perspectivas
ocidentais e orientais já encerra todas as idéias essencialmente
Cristãs: o pecado inato do homem, o Logos, a Palavra, que está com
Deus e é Deus e que se torna o mediador entre Deus e homem: a
compensação, não por sacrifícios de animais, mas trazendo-se o
próprio coração a Deus, e finalmente a característica essencial que na
nova filosofia religiosa, invertendo a ordem mundial anterior, busca
seus discípulos entre os pobres, os miseráveis, os escravos, e os
rejeitados, e menospreza o rico, o poderoso e o privilegiado,
originando o preceito para menosprezar todo prazer mundano e
mortificar a carne.
Por outro lado, Augusto via em si mesmo não só o Deus-homem,
mas também a chamada concepção imaculada que se tornou fórmula
imposta oficialmente. Ele não só teve César e ele mesmo idolatrados
como deuses, mas também espalhou a noção que ele, Augustus
Caesar Divus, o Divino, não era filho de um pai humano, mas que sua
mãe o concebeu do deus Apolo. Mas não seria talvez o Apolo citado
na canção de Heinrich Heine? [Referência a Apollgott, de Heine.].
Como vemos, nós precisamos apenas da pedra fundamental e
teremos o conjunto do Cristianismo em suas características básicas:
a encarnação da Palavra se torna homem em uma pessoa definida e
seu sacrifício na cruz traz a redenção da humanidade pecadora.
As fontes mais confiáveis não nos dão certeza sobre quando esta
pedra fundamental foi introduzida nas doutrinas estóico-filônicas. Mas
uma coisa é certa: não foi introduzida por filósofos, nem discípulos de
Filon ou estóicos. As religiões são fundadas por pessoas que
experimentam uma necessidade própria de religião e têm uma
percepção das necessidades religiosas das massas. Como regra, este
não é o caso dos filósofos clássicos. Por outro lado, nós observamos
que em tempos de decadência geral, agora, por exemplo, a filosofia e
o dogmatismo religioso geralmente aparecem em sua forma vulgar e
superficial. Enquanto a filosofia grega clássica em suas últimas
formas — particularmente na escola Epicurista — leva ao
materialismo ateístico, a Filosofia grega vulgar leva à doutrina de um
Deus único e da imortalidade da alma humana. O Judaísmo também,
racionalmente vulgarizado em mistura e intercurso com estrangeiros
e meio-judeus, acaba negligenciando a cerimónia e transforma o
antigo deus judeu exclusivamente nacional, Jahveh, no único Deus
verdadeiro, o criador de céu e Terra, e adota a idéia da imortalidade
da alma, que era estranha ao Judaísmo inicial. Deste modo, a filosofia
vulgar monoteísta entrou em contacto com a religião vulgar, a qual
presenteou com o já elaborado Deus único. Assim, o caminho foi
preparado pela elaboração entre os judeus das também vulgarizadas
noções filônicas, e não dos próprios trabalhos de Filon, das quais o
Cristianismo procede, como está provada pelo quase total descuido
com que foi composta a maior parte do Novo Testamento,
particularmente a interpretação alegórica e filosófica das narrações
do Velho Testamento. Este é um aspecto ao qual Bauer não dedicou
atenção suficiente.
Pode-se ter uma idéia do que era o Cristianismo em sua forma
inicial lendo o chamado Livro do Apocalipse, de São João. Selvageria,
fanatismo confuso, dogmas incipientes, a moral Cristã é apenas a
mortificação da carne, mas há uma multidão de visões e profecias. O
desenvolvimento dos dogmas e doutrinas morais pertence a um
período posterior, no qual os Evangelhos e as chamadas Epístolas dos
Apóstolos foram escritos. Nestas últimas — pelo menos como
consideração moral — a filosofia dos estóicos, de Sêneca em
particular, foi copiada sem qualquer cerimónia. Bauer provou que as
Epístolas, frequentemente, copiam os antigos palavra-por-palavra; de
fato, qualquer fiel nota isto, mas mesmo assim eles mantêm que
Sêneca copiou o Novo Testamento, embora ele ainda não houvesse
sido escrito naquele tempo. O dogma foi desenvolvido, por um lado
com relação à lenda de Jesus que estava, então, se formando, e, por
outro lado, na luta entre cristãos de origem judaica e de origem
pagã.
Bauer também fornece dados valiosos sobre as causas que
ajudaram o Cristianismo a triunfar e atingir a dominação mundial.
Mas aqui o filósofo alemão é impedido por seu idealismo de ver
claramente e formular precisamente. As frases frequentemente
substituem a substância em pontos decisivos. Ao invés, então, de
entrar em detalhes sobre as visões de Bauer, daremos a nossa
própria concepção deste ponto, baseados em trabalhos de Bauer, e
também em nosso estudo pessoal.
A Conquista romana dissolveu em todos os países que dominou,
primeiro, diretamente, as condições políticas antigas, e depois,
indiretamente, também as condições sociais de vida.
Primeiramente, substituindo a antiga organização fundamentada
nas propriedades (escravidão à parte) pela distinção simples entre
cidadãos romanos e peregrinos ou vassalos.
Depois, e principalmente, pelo severo tributo em nome do Estado
romano. Se, debaixo do império, era fixado um limite ao interesse do
estado para conter a sede de riqueza dos governadores, aquela sede
foi substituída pela taxação mais efetiva e opressiva em benefício da
tesouraria oficial, cujo efeito era terrivelmente destrutivo.
Em terceiro lugar, a Lei romana era, em última instância,
administrada em toda parte por juizes romanos, enquanto o sistema
social nativo era anulado no caso de conflitos com as prescrições da
lei romana.
Estas três alavancas necessariamente desenvolveram um
tremendo nivelamento de poder, particularmente quando foram
aplicados por centenas de anos a populações — das quais as parcelas
mais vigorosas tinham sido ou eliminadas ou escravizadas nas
batalhas precedentes, acompanhando, e frequentemente seguindo, a
conquista. As relações sociais nas províncias ficaram cada vez mais
próximas do que dependia da capital e da Itália. A população se
tornou cada vez mais nitidamente dividida em três classes, ignorando
os mais variados elementos e nacionalidades: pessoas ricas, incluindo
alguns escravos emancipados (cf. Petrônio), grandes proprietários de
terras ou agiotas ou ambos de uma só vez, como Sêneca, o tio do
Cristianismo; pessoas livres despossuídas, que, em Roma, eram
alimentadas e divertidas pelo estado — mas nas províncias viviam
como podiam, sem ajuda — e, finalmente, a grande massa, os
escravos. Em face do Estado, isto é, do Imperador, as duas primeiras
classes tinham tão poucos direitos quanto os escravos em face aos
seus senhores. Do tempo de Tibério ao de Nero, em particular, era
uma prática condenar cidadãos romanos ricos à morte a fim de
confiscar sua propriedade. O suporte do governo era —
materialmente, o exército, que era mais um exército de soldados
estrangeiros contratados do que de velhos camponeses romanos, e
moralmente, a visão geral de que não poderia ser de outro modo;
que não era este ou aquele César, mas o império fundamentado na
dominação militar que era uma necessidade imutável. Aqui não é o
lugar para examinar os fatos materiais que justificam esta visão.
A perda geral de direitos e a falta de possibilidades de melhorar
de condição ocasionaram um correspondente afrouxamento e
desmoralização geral. Os poucos Romanos velhos, sobreviventes do
tipo patrício, ou eram removidos ou mortos; Tácito foi o último deles.
Os outros ficavam contentes quando podiam manter-se afastados da
vida pública; toda razão para viver era juntar e desfrutar da riqueza,
e praticar a fofoca e a intriga privada. Os cidadãos livres
despossuídos eram pensionistas em Roma, mas nas províncias sua
condição era infeliz. Tiveram que trabalhar e competir com o trabalho
escravo pelo salário. Mas eram confinados nas cidades. Além deles,
existiam também os camponeses das províncias, livres proprietários
de terras (ambos, provavelmente, com propriedades comunais) ou,
como na Gália, fiadores das dívidas dos grandes proprietários de
terras. Esta classe era a menos afetada pelo motim social; também
era a que resistia mais tempo ao motim religioso. [Nota de Engels:
Conforme Fallmereyer, os camponeses em Main, Peloponeso, ainda
ofereciam sacrifícios a Zeus no século IX.] Finalmente, existiam os
escravos, destituídos de direitos e de si próprios e da possibilidade de
libertação, como a derrota de Spartacus já provara; a maior parte
deles, porém, foram antes cidadãos livres, ou filhos de cidadãos
livres-nascidos. Deveria, então, haver ainda entre eles um ódio
generalizado e vigoroso, entretanto, externamente impotente, por
causa das suas condições de vida.
Devemos encontrar o tipo de ideólogo que correspondia à
situação daquele momento. Os filósofos eram ou professores que
ensinavam por dinheiro ou palhaços pagos para divertir os ricos.
Alguns eram até escravos. Um exemplo do que se tornaram eles sob
boas condições é fornecido por Sêneca. Este estóico, pastor da
virtude e da abstinência, era o primeiro intrigante da corte de Nero, o
que ele não poderia ser sem servilismo; ele assegurou para si
presentes em dinheiro, propriedades, jardins, e palácios — e
enquanto orava pelo pobre Lázaro do Evangelho, ele era, na
realidade, o homem rico da mesma parábola. Até que Nero o fez
solicitar ao imperador que aceitasse a devolução todos os seus
presentes, pois sua filosofia era o bastante para ele. Só os filósofos
completamente isolados, como Persius, tiveram a coragem de brandir
a sátira acima de seus contemporâneos degenerados. Um segundo
tipo de ideólogos, os juristas, eram entusiastas das novas condições
porque a abolição de todas as diferenças entre Estados permitiria a
eles largo escopo na elaboração de seu direito favorito, o privado, em
troca de que eles prepararam para o imperador o sistema oficial de
direito mais vil que já existira.
Assim como fez com as peculiaridades políticas e sociais dos
vários povos, o Império Romano também foi condenado a arruinar
suas religiões particulares. Todas as religiões de Antiguidade eram
espontâneas, tribais, e velhas religiões nacionais, que surgiram da
fusão das condições sociais e políticas dos respectivos povos. Uma
vez que estas bases se romperam, e suas tradicionais formas de
sociedade, suas instituições políticas herdadas e suas independências
nacionais foram destruídas, a religião correspondente a estas
também naturalmente desmoronou. Os deuses nacionais podiam
suportar outros deuses ao lado deles, como era a regra geral da
Antiguidade, mas não acima deles. O transplante de divindades
Orientais para Roma era prejudicial só para a religião romana, não se
verificava decadência das religiões Orientais. Assim que os deuses
nacionais ficaram incapazes de proteger a independência de sua
nação encontraram sua própria destruição. Este foi o caso em todos
lugares (exceto com camponeses, especialmente nas montanhas). O
que o iluminismo filosófico vulgar — eu quase disse Voltairianismo —
fez em Roma e na Grécia, foi feito nas províncias pela opressão
romana e pela substituição de homens orgulhosos de sua liberdade
por submissos desesperados e malandros egoístas.
Tal era a situação material e moral. O presente era insuportável,
a possibilidade do futuro tranquilo, ameaçada. E nada, além disso. Só
o desespero ou refúgio no prazer sensual comum, pelo menos para
aqueles que podiam dispor disto, e estes eram uma minoria
minúscula. Caso contrário, nada, além de esperar o inevitável. Mas,
em todas as classes existiam necessariamente as pessoas que,
desesperando da salvação material, buscavam em seu lugar uma
salvação espiritual, uma consolação em sua consciência para salvarse
do desespero absoluto. Esta consolação não podia ser fornecida
pelos estóicos ou pela escola Epicurista, pela razão de que estes
filósofos não eram voltados para consciência comum e,
secundariamente, porque a conduta de discípulos destas escolas
trouxe o descrédito em suas doutrinas. A consolação era um
substituto, não para a filosofia perdida, mas para a religião perdida;
teve que tomar uma forma religiosa, a mesma que de alguma
maneira, segurou as massas até o século XVII. Precisamos notar
apenas que a maioria daqueles que estavam sensíveis para tal
consolação de sua consciência, para este vôo do mundo externo para
o interno, estavam necessariamente entre os escravos. Foi no meio
desta decadência económica, política, intelectual e moral que o
Cristianismo apareceu. E entrou como uma antítese resoluta a todas
as religiões anteriores.
Em todas as religiões anteriores, a cerimónia era a coisa
principal. Só tomando parte nos sacrifícios e procissões, e, no
Oriente, observando a dieta mais detalhada e preceitos de limpeza,
podia alguém mostrar a que religião pertencia. Enquanto Roma e a
Grécia eram tolerantes a respeito disto, existia no Oriente uma
revolta contra as proibições religiosas que contribuíram muito para a
sua queda final. Pessoas de duas das religiões diferentes, (Egípcios
Persas, judeus, Caldeus) não podiam comer ou beber juntos,
apresentar-se e agir juntos, ou mesmo falar um com o outro. Era
certamente devido a esta segregação do homem pelo homem que o
Oriente desmoronava. O cristianismo não possuía nenhuma
formalidade distintiva, nem mesmo os sacrifícios e procissões do
mundo clássico. Deste modo, rejeitando todas as religiões nacionais e
suas formalidades comuns, e dirigindo-se diretamente a todas as
pessoas sem distinção, se tornou a primeira religião mundial possível.
O judaísmo também, com seu novo deus universal, fez um começo a
caminho de se tornar uma religião universal; mas os filhos de Israel
sempre permaneceram uma aristocracia separando os crentes e os
circuncidados, e o próprio Cristianismo teve que se livrar da noção da
superioridade dos cristãos judeus (ainda dominante no chamado
Apocalipse, de São João) antes de poder realmente se tornar uma
religião universal. O Islã, por outro lado, preservando a cerimónia
especificamente Oriental, limitou a área de sua propagação ao
Oriente e à África do Norte, conquistada e povoada novamente por
beduínos árabes; ali ele pode se tornar a religião dominante, mas não
no Oeste.
Secundariamente, o Cristianismo atingiu um tom que estava
destinado a ecoar em incontáveis corações. A todas as reclamações
sobre a maldade dos tempos e a angústia moral e material, a
consciência cristã do pecado responde: É assim e não pode ser de
outro modo; tu ardes em culpa, somos todos culpados pela corrupção
do mundo, por nossa própria corrupção interna! E onde estava o
homem que podia negar isto? Mea culpai A admissão da parte de
cada um na responsabilidade pela infelicidade geral era irrefutável e
era a pré-condição para a salvação espiritual que o Cristianismo ao
mesmo tempo anunciava. E esta salvação espiritual estava tão
instituída que podia ser facilmente compreendida por membros de
toda a comunidade religiosa antiga. A idéia do pagamento para
aplacar a deidade ofendida era conhecida em todas as religiões
antigas; como a idéia do auto-sacrifício do mediador pagando de uma
vez por todas os pecados da humanidade não podia ser facilmente
explicada assim? O cristianismo, então, expressou claramente o
sentimento universal de que os próprios homens são culpados da
corrupção geral através da consciência do pecado de cada um; ao
mesmo tempo, providenciou, no sacrifício da morte de seu juiz, uma
saída universalmente esperada — pela salvação interna do mundo
corrupto, a consolação de consciência; assim novamente o
cristianismo provou sua capacidade para se tornar uma religião
mundial e ser, realmente, uma religião adequada ao mundo como ele
era naquele tempo.
Assim aconteceu que, entre os milhares de profetas e pregadores
do deserto que enchiam aquele período de incontáveis inovações
religiosas, só os fundadores do Cristianismo tiveram sucesso. Não só
a Palestina, mas o Oriente inteiro fervilhou com tais fundadores das
religiões, e entre eles travou-se o que pode ser chamado uma luta
darwiniana pela existência ideológica. Usando principalmente os
elementos mencionados acima, o Cristianismo "ganhou o dia". Como
ele gradualmente desenvolveu seu caráter de religião mundial por
seleção natural na luta das seitas umas contra as outras e contra o
mundo pagão é explicado em detalhe pelos primeiros três séculos da
história da Igreja.

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11 de Maio de 1882
Primeira Edição: Sozialdemokrat, de 4-11 de maio de 1882.
Fonte: A tradução foi realizada a partir da versão inglesa constante do MIA.
Tradução: Wellington de Lucena Moura
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e
indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

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