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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Indecisão sobre candidato para 2013 expõe divergências na esquerda paraguaia

 



Falta de posicionamento de Lugo e o apoio de algumas forças a Mario Ferreiro são alguns dos problemas

Nesta quarta-feira (15/08), dia em que Fernando Lugo começaria seu quinto ano de mandato, seria a data limite para que o bloco Frente Guasú, coalizão de partidos de esquerda e progressistas, anunciasse o futuro candidato da sigla à Presidência do Paraguai. As eleições acontecem em 21 de abril de 2013. A falta de consenso, no entanto, posterga a definição do nome escolhido e gera divisões internas da principal força de apoio ao ex-presidente do país.
Luciana Taddeo/Opera Mundi

Indefinição sobre candidatura do ex-presidente Fernando Lugo à Presidência gera divergências na esquerda paraguaia

Fontes consultadas pelo Opera Mundi afirmam que os principais fatores de ruptura são a falta de posicionamento de Lugo sobre seu futuro político e o apoio, por parte de algumas forças que integram o bloco, a Mario Ferreiro, um ex-apresentador de televisão. Desde que sofreu o golpe de Estado, Lugo diz esperar uma conclusão de sua equipe jurídica sobre a viabilidade de recuperar, por via eleitoral, seu gabinete no Palácio de los López. O discurso do ex-presidente é pouco preciso e indica perspectivas tanto de uma reeleição como de integrar a lista de senadores pela coalizão.

De acordo com a Constituição paraguaia, os chefes de Estados eleitos podem cumprir somente um mandato, sem possibilidade de uma nova candidatura. A interrupção do mandato de Lugo pelo julgamento político poderia, no entanto, constituir uma brecha na norma, segundo alguns de seus assessores. “Lugo nunca disse ‘não vou ser candidato’. O que acontece é que alguns advogados acreditam que ele pode ser e outros acham que não”, afirmou nesta manhã o pré-candidato à Presidência, Mario Ferreiro, na sede do Frente Guasú.

Por sua vez, o ex-chefe de gabinete social de Lugo, Miguel Ángel López Perito, afirmou na última quinta-feira (09/08) que uma candidatura do presidente destituído, o converteria em um “hazmerreír” (motivo de piada) da política paraguaia. “Como amigo e político, lhe recomendo que não se candidate”, afirmou, explicando que isso traria o risco de “colocar nas mãos do adversário uma definição, seja do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, seja da Suprema Corte, sobre a impugnação de uma eventual candidatura com fundamentos que não podem se sustentar seriamente”.
          


López Perito, do Movimento 20 de abril, coligado na Frente Guasú, integra as forças que apoiam a candidatura de Ferreiro, questionada pelos setores de esquerda cuja trajetória de luta é de longa data, presente inclusive no regime ditatorial de Alfredo Stroessner. Estes partidos e movimentos de maior rigidez ideológica, como o Tekojoja e o Partido, conformam, ao lado de outras siglas, o grupo denominado pela imprensa como “G11” do Frente Guasú. Além de ainda considerar a possibilidade de uma reeleição de Lugo, estes setores apoiam as pré-candidaturas do senador Sixto Pereira e de Fernando Camacho.

Progressistas

A posição destes setores entra em confronto com a do “G9”, formado por nove partidos e movimentos de composição mais jovem e progressista, em alguns casos surgidos da esquerda universitária, como é o caso do P-Mas (Partido do Movimento ao Socialismo). Para a secretária geral da sigla, Rocío Casco, Mario Ferreiro não teve uma trajetória de militância orgânica em nenhum partido, mas tem reconhecimento de setores de esquerda e poder de convocatória.

“Em seu espaço profissional sempre defendeu e se posicionou nos processos de lutas urbanas e camponesas, por isso tem apoio de movimentos e associações de fora do Frente Guasú. Pessoas que estão saindo dos partidos tradicionais para apoiar sua candidatura, ele está convocando setores”, explicou em entrevista ao Opera Mundi, sobre o jornalista, famosos no Show Bizness por ter sido apresentador de eventos como a entrega dos Oscar e escolha da Miss Paraguai.

“Lugo disse em privado a alguns referentes que não quer ser candidato. Mas outros grupos da Frente insistem muito em sua candidatura, e assumiram esta posição. Eles não resolvem sua crise interna para um consenso sobre o candidato e expõem, irresponsavelmente, a figura do [ex-] presidente a este debate superficial, o que desgasta a sua figura. Reconhecemos a liderança de Lugo, e o queremos na lista de senadores, porque existem impedimentos legais à sua candidatura à presidência”, explica Casco.

Cisão?

A candidatura de Ferreiro, no entanto, está longe de obter consenso interno no bloco apoiador de Lugo, fato retratado na divisão dos setores denominados “G9” e “G11”. Apesar de afirmar que “não se pode falar em uma ruptura”, o secretário geral do Frente Guasú Marcelo Canese lamenta que as diferenças internas façam com que o grupo perca as perspectivas. Há dois dias, o engenheiro divulgou uma carta na qual afirma que seu posto como secretário geral estava sendo questionado por alguns setores do bloco.
Gerardo Iglesias/rel-uita.org

Ferreiro não teve uma trajetória de militância orgânica em nenhum partido, mas tem reconhecimento de setores de esquerda

Em entrevista a jornalistas no Fórum Social do Movimento “Paraguai Resiste”, Canese lamentou que a exacerbação das diferenças internas faça com que o grupo perca as perspectivas. “Isso cria um micro-clima e as pessoas acham que isso é a verdade”, explicou, esclarecendo que o bloco estabeleceu que as candidaturas fossem definidas até o dia 31 de junho, e que se não houvesse acordo, seriam decididas em eleições internas. “Não teve consenso, mas o acordo está em vigência”, garantiu, minimizando a pressa por uma definição, já que a lei eleitoral do país não permite a realização de campanha eleitoral antecipada.

Para Casco, no entanto, o bloco assumiu a responsabilidade de diminuiras diferenças e chegar a um acordo. “Não queremos apressar e forçar resoluções, mas esperamos que nossos companheiros tenham abertura para um diálogo e não desprezem uma candidatura com potencial de convocatória de cidadãos que vêem na figura de Mario a continuidade. Temos que fazer pesquisas para ver os melhores posicionados e formar listas nacionais [de senadores], mas o processo está trancado. Espero que entrem em consenso, porque as eleições [partidárias] internas são em dezembro. Temos somente 240 dias para organizar estes dispositivos”, explica.

Apesar de algumas posições críticas, a maioria dos dirigentes de setores do Frente Guasú aposta em um tom conciliador, negando a divisão do bloco. “Lugo não está neste impasse de se será presidente ou não. Ele está mais preocupado em conseguir um consenso para que alguém o suceda no cargo e dê continuidade ao que ele começou. O que temos que fazer é fortalecer nosso projeto, a união dos setores de esquerda, progressistas para produzir de novo esta mudança. As portas para o diálogo não estão fechadas, ainda estamos conversando sobre candidaturas. Quando há campanhas eleitorais sempre há debates, são questões normais”, afirma Ferreiro.

Quando questionado sobre sua possível candidatura, em uma coletiva improvisada na sede do Frente Guasú nesta manhã, Lugo perguntou aos jornalistas: “Quem disse que eu vou me candidatar a presidente? Isso tem que ser dito por mim, e eu não disse. Continuaremos pensando, discutindo o que é melhor para o país”. “Mas não é justamente isso o que está causando conflitos no bloco?”, escutou de um dos jornalistas paraguaios presentes. “Quem? Quem entrou em conflito com quem?”, rebateu, após dizer que “na política, o mais difícil é construir consensos”.

Opera Mundi

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