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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Batalha em Alepo define o futuro da Síria

 


Centro econômico do país árabe, Alepo é a peça-chave para a resolução do atual conflito civil
    
 
Agência Efe

Rebeldes sírios vigiam sua posição durante sua luta contra os seguidores de Bashar Al Asad em Alepo 

A cidade síria de Alepo se transformou nas últimas semanas em um dos principais assuntos do noticiário internacional. Atual palco de vários enfrentamentos e duros conflitos entre as forças do governo de Bashar Al Assad e rebeldes que tentam tomar o poder, Alepo deve ser vista como bem mais que um simples alvo de bombardeios.

Assim como a cidade de Bengasi fora importante para a tomada do poder na Líbia, Alepo aparece como uma peça-chave para a resolução do atual conflito sírio por sua localização geográfica e importância econômica.

"O fato de batalhas estarem acontecendo na cidade já é um sinal dos problemas enfrentados pelo regime. Durante muitos meses da revolta, não havia confrontos em Alepo. Ter perdido controle sobre pelo menos parte dessa cidade mostra as dificuldades do regime", afirmou ao Opera Mundi Kai Enno Lehmann, cientista político pela Universidade de Liverpool e atual professor do Instituto de Relações Internacionais da USP.

Para os rebeldes, dominar a cidade e seus arredores significaria um refúgio importante dentro do próprio país, com passagem para a Turquia. Mas o governo sabe que não pode deixar isso acontecer. "Aquele que dominar essa cidade e a estrada que a liga até a Turquia vai controlar todo o norte, noroeste e leste do país, assim como grande parte das estradas e fronteiras, o que é uma imensa vantagem estratégica", explicou Isabelle Feuerstoss, pesquisadora do Institut Français de Géopolitique, em Paris, com foco de estudos na Síria.

Alepo está localizada a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Turquia, cujo governo é um dos principais aliados da oposição síria estando envolvido, inclusive, no financiamento da luta dos rebeldes. O país também recebeu centenas de desertores do governo de Assad, incluindo muitos altos oficiais.
Agência Efe

Forças da oposição disparam contra helicópteros do governo, responsáveis por bombardear a cidade de Alepo


"Concretamente isso significa a passagem de armamento, comida, água, medicamentos e todo tipo de material. Isso não é nada menos que o controle do espaço com uma continuidade territorial, já que até o momento os insurgentes controlam apenas enclaves (territórios dispersos). Controlar Alepo e seus arredores é controlar quase a metade do território sírio, de onde ofensivas bem preparadas e com apoio militar da Turquia poderiam ser lançadas contra as posições do Exército sírio", complementou Feuerstoss.

Transformar Alepo em um "quartel-general" rebelde daria enorme vantagem aos oposicionistas, que poderiam avançar linhas de frente e ir dominando o resto do território aos poucos.

Centro econômico 

Alepo é a capital econômica da Síria. Perder a cidade significaria para o governo perder grande parte de seus recursos financeiros, o que seria um grande choque e agravaria ainda mais a já frágil situação econômica das forças militares.

Pressionado por sanções impostas por parte de países ocidentais, o governo sírio já pediu ajuda financeira à Rússia. Segundo meios de comunicação russos, a Síria teria reclamado da falta de combustível e também pedido "uma certa soma para poder atravessar esta situação difícil em que a Síria hoje se encontra". Perder o domínio de Alepo e, consequentemente, de grande parte de sua fonte de renda, poderia ser um golpe fatal para Assad.

A cidade é caracterizada pelo dinamismo de seus mercados. Alepo é responsável por cerca de 40% da produção manufatureira do país, representando 35% de toda a exportação síria, sem contar o setor de petróleo, de acordo com o Aleppo City Development Strategy.

Cerca de metade das empresas farmacêuticas estão instaladas na cidade, produzindo aproximadamente 60% dos produtos, que são também exportados em grande quantidade.

Em 2005, um acordo de livre comércio foi assinado entre a Síria e a Turquia, beneficiando Alepo por causa de sua proximidade com o país vizinho. "O acordo também provocou a falência de muitas pequenas empresas familiares, mas numerosos comerciantes conseguiram se modernizar e se estabelecer no mercado. Alguns decidiram investir em outros setores além do têxtil, como o farmacêutico e o agroalimentar", afirmou Feuerstoss.
Agência Efe

Rebeldes sírios patrulham zona da cidade de Aleppo antes das investidas do governo no início de agosto

Desta forma, uma nova elite foi formada na cidade, que se transformou no coração econômico do país. Por essas medidas liberalistas de Assad, os ricos comerciantes foram favoráveis ao regime oficial em um primeiro momento – estavam prosperando. "As classes média e alta, que são os sunitas e cristãos e vivem nos bairros centrais e no oeste, não se implicaram na revolução, já que tinham muito a perder, ao contrário dos insurgentes", disse Feuerstoss.

No entanto, os comerciantes não estão satisfeitos com os rumos do conflito. A falta de segurança devido a ataques frequentes, principalmente por parte das forças de Assad, e o prejuízo nos negócios, podem fazer com que a elite econômica se implique nos confrontos financiando os rebeldes, como aliás, informantes locais dizem já estar acontecendo.

Ou seja, o governo é prejudicado tanto por perder seus recursos financeiros quanto pela ajuda da elite aos rebeldes. O apoio da classe aos opositores do regime pode provocar uma reviravolta nos rumos do conflito. E quando o processo de transição chegar, serão sem dúvida atores importantes.

Opera Mundi

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