Translate

domingo, 27 de maio de 2012

Embaixador da Russia no Brasil dá entrevista sobre relações entre os dois países









Foto: Voz da Rússia

O Embaixador da Rússia no Brasil, Sr. Serguei Pogosovich Akopov, deu uma entrevista à Voz da Rússia sobre diversos aspectos relacionados à Rússia e ao Brasil e ao relações bilaterais entre esses dois grandes países.


Nascido em 1954, o Embaixador Serguei Akopov formou-se em 1976 pelo Instituto Estatal das Relações Internacionais de Moscou, ingressando imediatamente na carreira diplomática. Serviu nas Embaixadas da Rússia na Costa Rica, entre 1976 e 1980; no Brasil, entre 1983 e 1988; e no Chile, entre 1990 e 1996. Entre os anos de 1999 e 2003 foi Ministro Conselheiro da Embaixada da Federação da Rússia no Brasil. A partir de 2005 foi vice-diretor do Departamento da América Latina do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia em Moscou. E em março de 2010 reassumiu a Embaixada da Rússia no Brasil. Hoje, como Ministro Extraordinário e Plenipotenciário de Segunda Classe, está novamente à frente da Embaixada da Federação Russa em Brasília.
– Senhor Embaixador, desde 7 de maio a Federação Russa se encontra sob a Presidência do Sr. Vladimir Putin. A política externa do Presidente Putin será a mesma de seu antecessor e hoje Primeiro-Ministro Dmitri Medvedev?
– A política externa da Rússia não tem hoje um caráter partidário. É uma política externa nacional que está defendendo os interesses nacionais da Rússia. Então, podemos dizer que no governo de Vladimir Putin, no novo mandato dele, os traços principais da política exterior russa seriam a continuação da política que foi promovida nos anos anteriores, uma política que está em primeiro lugar defendendo os interesses nacionais do nosso país.
– Sob o novo governo russo haverá incremento nas relações comerciais entre Brasil e Rússia?
– Nossos dois países estão trabalhando arduamente para aumentar as relações bilaterais na área comercial, na área econômica e na área de investimentos. Vamos fazer todo o possível para que essas relações continuem aumentando, não somente no nível quantitativo, mas também no  nível qualitativo, porque achamos que isso é o mais importante.
– Em junho o Brasil sediará a Conferência Rio+20, patrocinada pela Organização das Nações Unidas e voltada para a defesa do meio ambiente mundial e para o desenvolvimento sustentável. A Agência Brasil – órgão oficial de comunicação do Governo brasileiro – informou que o Presidente Vladimir Putin aceitou o convite da Presidenta Dilma Rousseff e estará presente ao evento. O senhor confirma a vinda do Presidente Putin ao Brasil? Em caso contrário, quem representará a Federação Russa na Conferência Rio+20?
– Essa Conferência Rio+20 será um evento internacional dos mais importantes da nossa época, da nossa atualidade, e está previsto que ela deverá elaborar uma estratégia de desenvolvimento sustentável da humanidade para os próximos decênios. Logicamente, todos os países estão tentando mandar a sua delegação de mais alto nível. Nós ainda não temos uma confirmação 100% de quem será o chefe de nossa delegação, mas sabemos perfeitamente que será do nível político mais alto possível neste momento. Um pouco mais tarde eu acho que poderemos conversar, porque até este momento não temos oficialmente uma confirmação definida. Mas eu quero repetir que a Rússia, de todos os modos, será representada por um nível político muito alto.
– Brasil e Rússia vivem um momento muito profícuo do seu relacionamento bilateral, inclusive no setor cultural. Ganham destaque no Brasil, por exemplo, as comemorações que a Rússia está promovendo em 2012 pelos 200 anos da Batalha de Borodino, que marcou a vitória do exército russo sobre a tropas de Napoleão Bonaparte. Como a Rússia está organizando esse evento? A Embaixada Russa no Brasil tem alguma iniciativa relacionada a esse evento?
– Realmente, este ano estamos comemorando esta data muito significativa na História não somente do meu país, mas também na História da Humanidade, porque a Batalha de Borodino marcou um elo muito importante na História, foi o começo da vitória sobre as tropas invasoras de Napoleão, fato que foi recebido com grande alegria por todo o mundo, e também no Brasil. O primeiro Cônsul da Rússia estabelecido no Rio de Janeiro enviou os seus primeiros documentos exatamente sobre a reação do povo brasileiro, do povo carioca, em relação às vitórias do exército russo sobre o exército de Napoleão. Na mensagem, o Cônsul russo escreveu que o povo brasileiro recebia com grande alegria notícia da vitória das forças russas contra Napoleão. Realmente, essa data será amplamente comemorada na Rússia, no campo de Batalha de Borodino, que hoje é um complexo turístico muito importante. Sabemos que vai ser organizada uma reconstituição histórica daquela batalha, com trajes de guerra e armas da época, e que será uma festa muito interessante. Muita gente, sem dúvida, vai assistir. E nós, aqui no Brasil, também. A Embaixada logicamente está pensando em organizar alguns eventos culturais e históricos comemorativos para celebrar essa data.
– Senhor Embaixador, qual o papel da mídia de Brasil e Rússia no desenvolvimento das relações estratégicas, culturais e comerciais entre os dois países?
– Elas desempenham um papel muito importante, porque a divulgação das informações é hoje uma tarefa importantíssima. Uma das causas, em nossa opinião, de não termos ainda alcançado  a soma de 10 bilhões de dólares estabelecida como meta pelos presidentes dos dois países para o comércio bilateral, é que ainda existe pouco conhecimento tanto na Rússia como no Brasil, de um país sobre o outro, e eu acho importantíssimo o papel que a mídia está desempenhando no sentido da divulgação da informação, de levar os povos ao encontro um do outro. Quanto mais vamos conhecendo um ao outro, vamos tendo mais e melhores possibilidades de negócio.
– Senhor Embaixador, o navio-escola Sedov iniciou no domingo, 20 de maio, uma volta ao mundo com duração prevista  de 14 meses, inclusive com escala no Brasil, devendo atracar no porto do Recife, em Pernambuco, no dia 22 de agosto. As viagens dos navios-escola russos são sempre acontecimentos de grande relevância mundial, na medida em que as suas chegadas em outros países se transformam em grandes acontecimentos culturais, na forma de visitações às instalações dos navios e conversas com suas tripulações. Do ponto de vista do relacionamento externo da Rússia, qual o real significado dessas missões internacionais dos navios-escola russos?
– Sim, realmente a viagem do navio-escola Sedov é um acontecimento importante em dois sentidos. Em primeiro lugar, é um navio-escola, e sua viagem ao redor do mundo é dedicada principalmente a formar os jovens cadetes que, depois de se graduarem vão constituir a base das tripulações da Marinha Mercante e da Marinha Militar russas. Mas também essas viagens são sempre usadas para divulgar a cultura russa, para estabelecer laços de amizade e de conhecimento mútuo com os países em cujos portos vão atracar. E logicamente estamos esperando e nos preparando para a chegada do navio Sedov a Recife. Vamos dar todo o apoio possível a essa chegada, e esperamos que  o contato entre os cadetes e marinheiros e o povo brasileiro constituirá uma importante missão de paz e amizade. Seguramente, o barco vai ser aberto à visitação, para os contatos.
– Vamos agora falar do relacionamento Rússia-Brasil. A Presidenta Dilma Rousseff já confirmou a data de sua viagem à Rússia? Qual o significado dessa viagem? Ao longo dessa visita, acontecerão reuniões da Comissão Mista Brasil-Rússia. O que isso significa para o implemento das relações bilaterais Rússia-Brasil?
– A visita da Presidenta Dilma Rousseff à Rússia, no segundo semestre deste ano, será um dos acontecimentos mais importantes nas relações bilaterais de nossa época. Nós estamos aguardando com grande interesse essa visita, e começamos a trabalhar arduamente para preparar bem essa visita. A data exata ainda está sendo negociada, mas estamos trabalhando com a expectativa de que essa visita se realizará no segundo semestre deste ano. E todas essas visitas, todos os contatos do mais alto nível entre os líderes de nossos países, sempre dão um empurrão para o avanço nas relações bilaterais em diferentes esferas. E é claro que essa visita vai ter esse resultado.
– Em 2009, em Brasília, no encontro entre os então Presidentes Dmitri Medvedev e Luiz Ignacio Lula da Silva, ambos concluíram que a balança comercial Rússia-Brasil poderá chegar ao volume de 10 bilhões de dólares. Em sua opinião, essa meta será atingida neste ano de 2012?
Sim. Essa cifra de 10 bilhões de dólares é uma das metas intermediárias, como nós consideramos, porque realmente o potencial dos nossos dois países é muito maior que a cifra de 10 bilhões. Estamos trabalhando bem, mas sabemos que os efeitos da crise financeira internacional afetaram numa certa medida os nossos planos, mas no ano passado conseguimos recuperar bastante o volume do comércio bilateral. Não atingimos ainda a cifra de 10 bilhões. Este ano, vamos ver... Parece que, se no ano passado a Rússia sofreu mais os efeitos da crise e o Brasil menos, este ano, aparentemente, a situação está um pouco diferente. Agora, a Rússia já passou a crise, e a crise está agora atingindo o Brasil. Mas vamos ver, vamos continuar trabalhando. Acho que será difícil ainda este ano atingir 10 bilhões de dólares, os resultados do primeiro trimestre mostram que dificilmente alcançaríamos essa cifra, mas estamos indo bem, e a tarefa neste ano é conservar o volume do ano passado para, depois de superar a consequências da crise, continuar avançando e chegar, afinal, a essa cifra de 10 bilhões. Mas eu queria sublinhar que hoje a tarefa principal, o desenvolvimento das relações econômicas, deveríamos ver um pouco de outro ângulo, não somente do ângulo das trocas comerciais diretas e do volume de comércio. Ele pode ser um pouco maior ou menor. E a tarefa mais importante hoje foi trazida pelos presidentes dos dois países e é a construção, a formação de uma aliança estratégica, tecnológica, entre Brasil e Rússia. Essa tarefa está dirigida ao futuro, a formação de uma aliança tecnológica bilateral. Ela abriria novas perspectivas para o desenvolvimento da nossa cooperação bilateral para o futuro. Essa é a área onde nós tentamos concentrar principalmente os  esforços entre os dois países, para formar essa base  de aliança tecnológica que nos abriria novos horizontes para o desenvolvimento da cooperação.
– Senhor Embaixador, há um entendimento de que entre os países do grupo BRICS a Rússia é o que apresenta melhor performance em relação à crise econômica europeia. A que o senhor atribui essa performance?
– Eu pessoalmente acho que é o resultado de uma correta política macroeconômica que foi elaborada e traçada por nosso governo no período anterior, o governo que saiu agora, e foi formado outro gabinete. A situação da Rússia hoje mostra que essa política foi correta. Ela permitiu criar condições favoráveis para superar ou minimizar os efeitos da crise econômica sobre a economia da Rússia e criar condições para o seu desenvolvimento interior. Eu acho que essa é a causa principal dessa situação.
– O relacionamento entre Brasil e Rússia, além de político e econômico, também se reflete nos setores cultural e esportivo. No setor cultural, nós, da Voz da Rússia, temos dado apoio a instituições como a Dell’Arte ou a Orquestra Sinfônica Brasileira para a realização de concertos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e em outros locais, com a participação de artistas russos e de músicas de compositores russos, além da promoção da vinda do pianista russo Evgueni Kissin ao Brasil para apresentação em 1.º de junho. No setor esportivo, tivemos o Lokomotiv de Moscou conquistando o Mundialito de Beach Soccer 2012 em 19 de maio, em São Paulo, e teremos em junho em São Petersburgo a sensacional luta entre os dois grandes nomes das artes marciais mistas, o russo Fiodor Emelianenko enfrentando o brasileiro Pedro Rizzo. Como o senhor analisa todas essas iniciativas?
– Todas essas iniciativas são maravilhosas, magníficas. Elas mostram o grande potencial que os nossos países têm no desenvolvimento das relações culturais, esportivas, humanitárias, mas são muito poucas, na realidade, só algumas. Eu gostaria que a gente não tivesse nem como mencionar todas as que aconteceriam durante o ano, mas ainda é ótimo que este ano temos tantos acontecimentos. Entre os projetos culturais maravilhosos que nós temos, talvez o único projeto cultural que não existe em qualquer outra parte do mundo é a experiência da Escola do Balé Bolshoi no Brasil, que está funcionando perfeitamente. No dia 10 de maio, nós tivemos em Brasília uma apresentação muito boa da Escola. Um espetáculo completo, o balé Giselle. Realmente, o nível de profissionalismo desses bailarinos brasileiros é muito alto, é o mais alto do mundo. Algumas dessas crianças que terminaram a Escola já fazem parte de grupos de balé do Bolshoi de Moscou e de outras companhias de grandes capitais do mundo. Devemos mencionar esse projeto entre aqueles outros acontecimentos também importantes, porque a Escola do Bolshoi é única, não há outro exemplo no mundo. Esse é um tipo  de transferência de tecnologia da realidade, se podemos falar assim, uma transferência de arte da melhor qualidade. A Rússia é considerada a mais forte no balé, mas hoje podemos dizer que o Brasil já alcançou também esse nível  de profissionalismo muito alto em balé. Eu acho que esse exemplo da Escola do Bolshoi mostra aonde essa cooperação na área cultural e educacional pode levar. Realmente, ela pode ser proveitosa para ambos os lados. Eu gostaria muito que esses acontecimentos na área esportiva, cultural e educativa fosse tão grande que não tivéssemos tempo de enumerar todos eles aqui.
– Senhor Embaixador, nós falamos há pouco sobre os eventos esportivos e culturais, mas eu gostaria de voltar à vitória do Lokomotiv. Gostaria de lhe perguntar: Brasil e Rússia são os países anfitriões das Copas do Mundo de 2014 (no Brasil) e 2018 (na Rússia), e a FIFA tem elogiado a Rússia por seus preparativos, afirmando que ela está além do Brasil em relação à preparação do torneio. O senhor crê que seria viável, não somente do ponto de vista esportivo, mas também diplomático e comercial, a realização de um amistoso entre as duas Seleções – Brasil e Rússia – pelo motivo de que serão as próximas sedes da Copa?
– Sim, realmente é uma iniciativa muito boa. Já estamos trabalhando nisso, porque muitos aficionados de futebol lembram aquele famoso amistoso entre a Seleção da, naquela época, União Sovética e o time do Brasil, no Maracanã. Não estou muito seguro, mas acho que este ano temos uma data redonda do jogo, e muitas federações, futebolistas e esportistas em geral da Rússia e do Brasil estão lembrando dessa data e querem fazer uma comemoração. Realmente, posso revelar que existe a iniciativa, e estamos trabalhando nisso juntos – futebolistas e esportistas russos e brasileiros – para poder organizar uma série de amistosos de futebol no Brasil e na Rússia. Claro que hoje é um pouco difícil unir as Seleções daquela época. Dizem que alguns jogadores daqueles tempos ainda podem sair em campo, tocar a bola, mas vamos ver... A iniciativa existe, estamos trabalhando, há gente que gostaria de apoiar esses amistosos. Espero que possamos dar essa alegria aos fãs de futebol de ambos os países, reunindo as equipes clássicas do futebol e comemorando aquelas partidas dos anos 60.
– Senhor Embaixador, nós estamos nos aproximando do milésimo programa Voz da Rússia no Brasil. Eu gostaria que o senhor fizesse uma avaliação do nosso programa e dissesse o que ele representa para as relações Rússia-Brasil.
Mil programas significam uma experiência bastante considerável. Cumprimentando todos os funcionários e todos os jornalistas desse programa, dessa companhia, gostaria de dizer que o trabalho que vocês estão fazendo não é somente um trabalho jornalístico, mas um trabalho político muito importante. Eu já disse que uma das grandes tarefas que nós temos, dos dois lados, é aproximar cada vez mais os nossos povos, fazer todo o possível para que as pessoas do Brasil conheçam melhor a Rússia, e os russos conheçam melhor o Brasil. Então, o que vocês estão fazendo nesse sentido não tem como ser medido. Realmente, é muito grande o valor desse trabalho, porque vocês levam a Voz da Rússia ao povo brasileiro, e vocês não levam somente a Voz da Rússia, mas também a informação sobre a Rússia atual, moderna, que hoje lamentavelmente é pouco conhecida ainda no Brasil. Então, nesse sentido, nós apreciamos, apoiamos muito, e desejamos todo o êxito que podemos desejar, e muitos anos.

Voz da Russia

Nenhum comentário:

Postar um comentário