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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Agora, Mendes insinua que Jobim também tentou pressioná-lo

 

Mendes durante a sessão da 2ª Turma do STF, nesta quinta-feira. Foto: Carlos Humberto / STF
Mendes durante a sessão da 2ª Turma do STF, nesta quinta-feira. Foto: Carlos Humberto / STF

No início da noite de terça-feira 29, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu uma entrevista para alguns veículos de imprensa no qual acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de comandar uma “central de boatos” contra ele abastecida por “bandidos” e “gângsters”.
O objetivo desse grupo, disse Mendes, seria atrapalhar o julgamento do mensalão, previsto para ocorrer ainda neste ano. Em entrevistas a dois jornais publicadas nesta quarta-feira 30, Mendes parece estar recuperando os fatos ocorridos na fatídica conversa e traz dois aspectos novos que ainda não havia trazido à tona. Segundo Mendes, o teor da reportagem publicada pela revista Veja é fruto de uma “interpretação” e o ex-presidente do STF Nelson Jobim, anfitrião do encontro entre Lula e Mendes, também pode ter, segundo Mendes, participado da tentativa de “chantageá-lo”.
A insinuação de que Jobim tentou “chantagear” Mendes foi feita pelo ministro em entrevista ao jornal Valor Econômico. Segundo ele, isso teria ocorrido quando Jobim citou, durante a conversa do trio, o nome de Paulo Lacerda, ex-diretor-geral da Polícia Federal. Lacerda e Mendes são inimigos políticos desde 2008. Lacerda perdeu o cargo após denúncias de que teria mandado grampear o gabinete de Mendes no STF. A revista Veja publicou a denúncia, mas ela jamais foi comprovada e os grampos nunca apareceram. Em entrevista ao Estado de S.Paulo, também publicada nesta quarta-feira 30, Gilmar Mendes afirma ter recebido notícias de que Lacerda quer “destruí-lo”. Questionado pelo Valor Econômico se, ao citar o nome de Lacerda, Jobim estaria tentando fazer uma chantagem, Gilmar diz que “Pode ser”. Em seguida, Mendes afirma “que Jobim participou da conversa inteira” e que, “uma ficha caiu”. “Isso é possível, vamos constrangê-lo com Paulo Lacerda. Não sei se é isso”, diz Mendes.
A frase “não sei se é isso” no fim da fala demonstra que Mendes pode estar, em meio à imensa polêmica criada, reinterpretando os fatos ocorridos na reunião com Lula e Jobim e tentando dar a eles uma lógica. O que pode ser um problema para Mendes é que essa lógica agora é guiada pelo clima de rivalidade clubística em torno do caso. Neste contexto, Mendes não tem como recuar das denúncias feitas, num comportamento parecido com o que manteve no episódio do “grampo”.
É importante notar que o tom de histeria a respeito do caso foi dado, em grande medida, pela reportagem de Veja. A revista afirma que Lula “ofereceu proteção ao ministro Gilmar Mendes, dizendo que ele não teria motivo de preocupação com as investigações” para só depois dizer que isso teria ocorrido de forma “decodificada”. Em entrevista à TV Globo, levada ao ar pela GloboNews na noite de segunda-feira 28, Mendes negou uma oferta direta de proteção feita por Lula. Nas reinterpretações que vem fazendo da reunião, Mendes parece estar buscando argumentos para provar a si próprio que foi vítima do que seria um acha que político por parte de Lula. Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta, Mendes diz que a revista interpretou as informações que possuía. “A Veja compôs aquilo como uma colcha de retalhos, a partir de informações de várias pessoas, depois me procuraram. Óbvio que ela tem a interpretação. O fato na essência ocorreu”, disse. O que não se sabe é quem seriam as “várias pessoas” citadas por Gilmar, uma vez que a reunião tinha apenas três integrantes: ele, Jobim e Lula.

CartaCapital

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